O
QUE EU FAÇO? MEU FILHO ESTÁ MORDENDO
Isabel Cristina
Hierro Parolin
Essa pergunta normalmente é feita por pais que têm
um filho que morde e pela professora que deve administrar essa situação em sala
de aula, sem falar na reação dos pais que têm o filho mordido, os quais também
não sabem como agir.
Morder faz parte do desenvolvimento de uma criança
e é aceitável entre 1 a 3 anos e meio. No entanto, essa manifestação causa
transtornos enormes tanto para as famílias da criança que está mordendo quanto
para o contexto social em que a criança está inserida, quer seja na escola, na
casa dos avós, um parque, etc.
Geralmente os pais se sentem impotentes diante das
mordidas e a tendência é proteger a criança não a expondo em situações de
convívio, o que pode vir a tardar a aprendizagem de não morder o outro. Não
podemos esquecer que nessa idade a criança está aprendendo a conviver e está
conhecendo o mundo e seu funcionamento.
A criança morde por vários motivos: para
experimentar simplesmente, para explorar e descobrir coisas, para se
diferenciar, para lidar com a sua frustração, por estar com fome, com sono, por
estar cansada, para chamar a atenção. Não é raro também a criança morder para
ver a reação das pessoas, e isso, ao mesmo tempo que a maravilha, igualmente a
assusta.
É preciso perceber se a criança morde por impulso,
para reagir a algo, ou se ela morde para se comunicar. De qualquer forma é
preciso educar a criança que morde a buscar um comportamento social mais
adequado. Os pais darem limites a criança é bom. Demonstrar que o que ela fez
doeu e que vocês não gostaram. Afirmar que vocês não deixarão que aconteça
novamente transmite segurança e ajuda muito. ” Eu sei que você está cansado,
mas fale pra mim ao invés de morder…” ” Não será desta forma que seu coleguinha
vai brincar com você…” ” Você não pode morder as pessoas quando quer algo, é
preciso dizer o que quer…” . Importante é que os pais ou professores demonstrem
segurança para a criança e que eles estão ao lado dela para ajudá-la a
controlar e adequar esse comportamento.
É inútil e inadequado morder a criança para ela perceber como é ruim. Isso
assusta e não educa. Também não é adequado pedir que ela se coloque no lugar da
criança que foi mordida. A criança nessa faixa etária não consegue se colocar
no lugar do outro e avaliar a situação sob outra ótica. Pior ainda quando os
pais pedem para a criança colocar-se no lugar deles. ” O que você faria se seu
filho fizesse isso?” Esse tipo de orientação só deixa a criança confusa, e
muitas vezes aumenta ainda mais a sensação de incompreensão do que está
ocorrendo. A criança também se assusta ao morder e perceber a reação do outro.
Melhor é dar outras saídas. “Meu filho, isso dói! Morda esse brinquedo”, ou
então, sugira para ele morder bem forte a bolacha, mas não morder as pessoas!
É importantíssimo que a criança não se sinta culpada
pelo que está acontecendo. Se os pais se desestabilizarem, acabarão gerando
insegurança na criança e possivelmente ela morda ainda mais.
Em sala de aula a conduta da professora deve ser semelhante aos dos pais. À
criança que morde deve demonstrar que ela pode se manifestar de forma diferente
e à criança mordida explicar que o coleguinha não queria machucar, sem deixar
de dar a devida importância e atender ao susto e dor da mordida.
Os educadores concordam que uma criança se desenvolve através de brincadeiras e
jogos que estão relacionados, encaminhando-se de estágios mais primitivos para
outros mais elaborados. Se o adultos que cercam uma criança a impediram de
vivenciar,compreender e dominar cada etapa do seu desenvolvimento, ao invés de
ajudarem, correm o risco de tardar a conquista da maturidade e da compreensão
do mundo de seu filho.
Morder faz parte de uma das etapas do
desenvolvimento e deve ser tratada dessa forma. A criança não é uma mordedora.
Com calma e bom senso estamos preparando os nossos filhos para as vicissitudes
da vida, que sabemos, não são poucas.